Revista Indústria Brasileira

▼ Competitividade Na base do descompasso entre a liberação do dinheiro pelo Tesouro Nacional e sua efetiva chegada ao destinatário está o modus operandi do sistema financeiro. Pautado pelo Acordo de Basiléia, o sistema financeiro mantém, mesmo em período de crise, a realização das análises de pagamento, e tem demons- trado receio em emprestar. O presidente da Associação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer), Natel Moraes, conta que havia a expectativa de que o crédito para a folha de pagamento chegasse a todas as empre- sas, sem distinção. “Isso não vem acontecendo. As instituições financeiras seguem fazendo análise de crédito de forma nor- mal, criando várias dificuldades”, conta Moraes. Do outro lado do balcão, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, explica que, apesar de não possuir garantias atreladas ao desembolso da linha de crédito estabelecida pela MP 944/2020, é necessário manter um padrão mínimo de avaliação “para trazer o maior grau de certeza pos- sível de que os recursos possam retornar aos cofres públicos”. OBSTÁCULOS NA RECUPERAÇÃO Levantamento realizado pela Associação Brasileira da In- dústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) constatou que 38% das empresas do setor buscaram crédito em abril e todas encontra- ram obstáculos. Em vez de redução das exigências, 57% iden- tificaram aumento nas garantias exigidas, tais como duplica- tas, garantias reais, carta garantia da matriz, imóveis, volume de aplicações e fiança. “A única forma que eu vejo de haver destravamento do crédi- to é utilizar o Tesouro Nacional como garantidor. Do contrário, os bancos continuarão sem emprestar porque não querem cor- rer riscos”, avalia Humberto Barbato, presidente da associação. Outro aspecto do problema refere-se ao fato de a crise não ter impactado a todos da mesma forma. “Os setores que estão operando mais dentro da normalidade estão tendo uma aná- lise de crédito mais benevolente em função dos próprios ba- lanços, mas isso não pode ser assim porque, caso contrário, vamos ver uma mortandade de empresas”, alerta Fernando Pi- mentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têx- til e de Confecção (Abit). A fórmula estabelecida pela MP 944/2020, por meio da qual a União arca com 85% dos recursos e os bancos com os outros 15%, com o risco de inadimplência dividido na mesma propor- ção, tem sido apontada como a principal causa do insucesso da medida. Lideranças do setor produtivo têm sido enfáticas ao afirmar que qualquer linha de crédito somente chegará às em- presas se o governo ampliar a sua participação no risco. Um modelo de referência é o dos Estados Unidos, onde o Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, criou uma linha de crédito na qual responde por 95% do risco. Representante do sistema financeiro, o presidente da Os setores que estão operando mais dentro da normalidade estão tendo uma análise de crédito mais benevolente em função dos próprios balanços” ▲ Fernando Pimentel presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) 24 Revista Indústria Brasileira ▶ maio 2020

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