Revista da Confederação Nacional da Indústria | Ano 4 | nº 35 | setembro 2019

O Futuro do trabalho e a educação do Futuro CLÁUDIA COSTIN ▲ diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV-RJ e ex-diretora global de Educação do Banco Mundial ▶ A opinião de articulistas convidados não necessariamente reflete à da CNI. ▼ Outra visão O Brasil tem grandes desafios educacionais, mas já superou outros antes. Só para citar um, no final da década de 1960, o Brasil tinha só 40% das crianças na escola. Mas em meados dos anos 1990, o Brasil finalmente conseguiu enfrentar isso e universalizamos o acesso ao fundamental I e pouco depois ao fundamen- tal II. Agora, estamos perto de universalizar o acesso à pré-escola (4 e 5 anos). Apesar dos avanços em acesso, os estudantes não estão aprendendo como de- veriam e o Brasil vive hoje uma crise de aprendizagem. Quando olhamos para os números, 78,5% dos alunos de 9º ano não sabem o suficiente em matemáti- ca e esses são os alunos que vão entrar no ensino médio, técnico e profissional. Com o advento da indústria 4.0, essas habilidades básicas, que crianças e jo- vens brasileiros ainda não possuem, já não são mais suficientes. Vamos precisar desenvolver competências de um nível bemmais sofisticado porque a inteligên- cia artificial e a automação vão substituir o trabalho humano, inclusive aquele que demanda competências cognitivas elementares. Se não adotarmos políticas públicas hoje para dar aos jovens brasileiros as competências de que necessitam para navegar bem nesses novos tempos, te- remos problemas gravíssimos, tanto no aumento de desigualdade quanto de desemprego. Todo jovem deveria, até o final da escolaridade básica, saber ler e interpre- tar bem textos mais complexos; ter raciocínio matemático apurado; desenvol- ver uma mente investigativa, base importante para todas as ciências; e ter um bom repertório cultural. Para lidar com a quarta Revolução Industrial, precisa- mos que também desenvolvam as chamadas competências do séculos XXI, que não são facilmente substituídas por máquinas. Entre elas destaca-se a empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Os robôs não são capazes de ter empatia, podem aprender a ler emoções, mas não reagem a elas, a não ser de forma programada. Os jovens têm que de- senvolver persistência e garra para se reinventar continuamente, dado que pos- tos de trabalho vão ser extintos em ondas sucessivas, obrigadando-os a constan- temente adquirir novas competências. Além disso, será importante aprender a resolução colaborativa de problemas com criatividade. Neste contexto, qual o papel do ensino técnico? Ele continua muito relevante, mas deve incorporar as novas competências, entre elas a de aprender a apren- der. Vai ser muito importante saber se reinventar, mas um curso desenhado junto com o setor produtivo e em conexão com uma visão de futuro vai posibilitar es- sas aprendizagens. Hoje temos apenas cerca de 8% dos alunos no ensino médio técnico. Precisamos expandir o acesso e requalificar o ensino ao mesmo tempo. O Brasil já enfrentou desafios maiores e pode certamente fazê-lo! ■ 46 Revista Indústria Brasileira ▶ setmbro 2019

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