Revista da Confederação Nacional da Indústria | Ano 4 | nº 30 | Fevereiro 2019

Outra visão Jair Bolsonaro e o novo Congresso Nacional POR LEONARDO BARRETO A eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e de Davi Alcolumbre (DEM- -AP) para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, respectivamente, termina de montar o novo balanço de poder do país. Muitas mensagens podem ser extraídas, a começar pelo fato de ambos teremmenos de 50 anos, reforçando a visão de que velhas lideranças estão indo a pique. No Senado, a ascensão de Alcolumbre ocorreu em clima de re- belião contra Renan Calheiros (MDB-AL) e a “velha política”. A pu- blicização dos votos feita por vários senadores mostrou uma defe- rência a uma nova opinião pública, manifestada especialmente via redes sociais. Esse é um ator fantasma, que deve influenciar outras votações com apelo na população. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), não foi deci- sivo para a vitória de Alcolumbre, mas é seu principal beneficiá- rio. Tendo dificuldade de interlocução com Rodrigo Maia, Loren- zoni consolidou-se como canal junto ao Senado, delimitando seu espaço, antes em cheque. Outros vencedores indiretos dessa eleição foram as autorida- des que atuam ou atuaram na operação Lava-Jato. Sendo Calheiros o mais aberto dos desafiantes do Ministério Público e do ministro da Justiça, Sérgio Moro, sua derrota facilita a agenda desses atores. Na Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia tornou-se o principal nome do Congresso Nacional. Junto ao ministro da Economia, Paulo Guedes, passou a ser o fiador legislativo das reformas econômicas. O governo tem grande dependência de Maia, que aumenta quando considerada a inexperiência parlamentar do PSL. Portanto, longe de ter um rolo compressor à sua disposição, Jair Bolsonaro (PSL) opera um modelo que tenta influenciar os parla- mentares a partir de fora. Além da nova opinião pública, que hoje lhe é favorável, mas volúvel, ele conta com sua popularidade e com a pressão de governadores de estados falidos para pressionar o Con- gresso Nacional. Pelo momento, deve funcionar mas, no médio prazo, a constru- ção de um arranjo institucional mais sofisticado, estável e previsí- vel se faz necessária. A eleição das chefias do Congresso ofereceu a Bolsonaro bons interlocutores, amigáveis à sua agenda econômi- ca. Entretanto, parece inevitável que o presidente busque aprofun- dar relações com o parlamento. Isso não significa, necessariamen- te, a volta das relações fisiológicas. Como o Senado demonstrou, há espaço para novos jogos que são, ao mesmo tempo, desafios e oportunidades. ■ ▲ Leonardo Barreto é cientista político e sócio da Capital Político , empresa de pesquisa e análise da conjuntura política brasileira. ▶ A opinião do articulista convidado não necessariamente reflete à da CNI. 46 Revista Indústria Brasileira ▶ fevereiro 2019

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