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REVISTA
SESI/SENAI
EDUCAÇÃO
Outro dia me lembrei desse episódio ao visitar Macau,
numa viagem à China. Depois de ver os arranha-céus e os
mega shopping centers de Hong Kong, chegamos a Macau
ansiosos para encontrar uma China menos ocidentalizada,
menos século 21 – aquelas fantasias de turista. Do ociden-
te, queríamos ver apenas as marcas da colonização portu-
guesa, e ali estavam elas: a arquitetura, as placas em por-
tuguês (apesar de ninguém mais falar português na ilha),
a praça que lembra Lisboa... Entusiasmados, pedimos ao
guia para nos deixar em algum restaurante que servisse
uma legítima bacalhoada. Ele prontamente nos conduziu
para o endereço onde se comia “a melhor bacalhoada de
Macau”: um restaurante na praça de alimentação de um
mega shopping, localizado dentro de um megacassino.
Sentamos para comer naquela praça nada histórica e,
quando olhei para cima, avistei um céu artificial. O mes-
mo que eu tinha visto em Las Vegas, num complexo de
cassino e shopping dos mesmos donos do cassino chinês.
Céu de Las Vegas em Macau? Contemplei com tristeza
aquele azul sinistro, pontilhado por nuvens estáticas e as-
sustadoras, e comi o bacalhau em silêncio. Xuxa e Bian-
ca no sertão de Rosa, o céu de Las Vegas na ex-colônia
portuguesa. É, o mundo está mudando, e a grande ironia
talvez seja que, quanto mais muda, mais parecido fica.
Há quem goste. Eu, particularmente, e para usar o mais
mineiro dos adjetivos, acho
esquisito
.
©PAULROMMER/ISTOCKPHOTO