Revista da Confederação Nacional da Indústria | Ano 5 | nº 41 | Fevereiro 2020

Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável pode gerar 70 mil empregos em dez anos WILLIAM WILLS O Acordo de Paris prevê a implantação do Mecanismo de Desenvolvi- mento Sustentável (MDS), que permitirá ao setor privado investir em projetos de redução de emissões e gerar os “créditos de carbono”, que podem ser vendidos a outros países para cumprir seus compromissos de mitigação de emissões, por meio do futuro mercado de carbono global, como ocorreu em Kyoto com o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Este, de acordo com dados do Ipea, gerou investimen- tos de US$ 32 bilhões nos últimos 15 anos na economia brasileira, dei- xando de lançar 124 milhões de toneladas de emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) na atmosfera, sendo quase 50% evitadas por proje- tos da indústria.  Nos últimos dois anos, um dos pontos que vem fazendo com que as negociações internacionais do clima não avancem de forma satisfató- ria é o “ajuste correspondente” de emissões. Este consiste no arrocho de metas de emissões de GEE previstas no Acordo de Paris, proporcio- nal aos créditos de carbono vendidos. Em casos como o do Brasil, que possui meta ambiciosa de reduzir 37% das emissões em 2025 e 43% das emissões em 2030 em relação a 2005, se isso não for realizado em de- terminadas condições, pode haver consequências negativas na com- petitividade econômica do país e da indústria. Em recente estudo que elaboramos a pedido da Confederação Na- cional da Indústria (CNI), avaliamos os impactos macroeconômicos decorrentes da aplicação do ajuste correspondente com a venda de 380 milhões de toneladas de créditos de carbono. Os resultados mos- traram que, para o ajuste correspondente ser viável economicamente para esse volume de emissões, há quatro condições principais: o pre- ço internacional do carbono deve ser superior a US$ 39/tCO2 (o preço médio em Kyoto atingiu US$ 22/tCO2); as medidas de modernização da indústria devem ser financiadas por recursos externos; deve-se ga- rantir o cumprimento integral dos compromissos do Brasil no Acor- do de Paris, com investimentos superiores a US$ 450 bilhões, confor- me estimativas da CNI; e precisamos alcançar desmatamento ilegal zero até 2030. Garantidas essas condições bastante desafiadoras, os custos de pro- dução no país devem ser reduzidos, contribuindo para uma alta do PIB, dos níveis de atividade da economia e das exportações, gerando 70 mil empregos em 10 anos. No entanto, todo esse fluxo econômico só deve- rá propiciar os ganhos estimados caso haja políticas públicas adequa- das para melhorar o ambiente de negócios no Brasil, podendo a agen- da de baixo carbono ser um gatilho para potencializar novos negócios e o aumento da competitividade. ■ ▲ Sócio da EOS Estratégia & Sustentabilidade 46 Revista Indústria Brasileira ▶ fevereiro 2020 ▶ A opinião de articulistas convidados não necessariamente reflete à da CNI. ▼ Outra visão

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