Revista Indústria Brasileira

A opinião de articulistas convidados e convidadas não necessariamente reflete a da CNI. ▼ Outra visão É possível fazer engajamento social na Amazônia por JEANICOLAU SIMONE DE LACERDA e MARCOS SOUZA As florestas tropicais estão entre os ecos- sistemas mais ameaçados do planeta e gran- de parte dessa ameaça provém do fato de que essas mesmas florestas fornecem recur- sos vitais para a humanidade. Retirar delas o que necessitamos e, ao mesmo tempo, preservá-las é uma equação que o manejo sustentável resolve bem, mas, infelizmen- te, questões culturais e econômicas acabam por tornar o business as usual da extração flo- restal algo não sustentável. Nesse sentido, embora a devastação de florestas tenha impacto global, é na esfera local que deve ocorrer o esforço maior para manutenção da sustentabilidade. Isso não é possível sem o engajamento das comuni- dades e dos povos tradicionais que ocupam aqueles espaços. Sim, o envolvimento das comunidades não pode ser retórico. Ele precisa ser traba- lhado e desenvolvido como uma das bases para o sucesso de um projeto sustentável. No caso de empresas que exercem ativi- dades de manejo de florestas tropicais, mes- mo aquelas certificadas e sustentáveis, essa relação precisa se dar de forma ainda mais próxima do que para qualquer outro negó- cio, já que se trata de uma operação mui- to estigmatizada pela sociedade em geral. Para isso, é preciso respeitar as distin- ções culturais e legais de cada espaço. A Pre- cious Woods, por exemplo, que maneja 1,1 milhão de hectares de florestas tropicais no Brasil e no Gabão, possui distintas estraté- gias de engajamento das comunidades lo- cais, embora ambas estejam fundamentadas no princípio da garantia da sustentabilidade e do desenvolvimento regional. No Brasil, a empresa desenvolve, den- tro das suas propriedades, um processo de reconhecimento pacífico da legítima pos- se da terra pelos moradores. A regulariza- ção fundiária viabiliza o acesso a fomen- tos governamentais e, consequentemente, a melhoria da qualidade de vida daqueles indivíduos, o que os torna sinceros parcei- ros da empresa. Outras medidas são: manutenção de pro- gramas e parcerias com produtores locais para a aquisição direta dos alimentos pro- duzidos nas comunidades; capacitação para a busca de alternativas sustentáveis de ge- ração de renda; capacitação para a extração de produtos não madeireiros; e manuten- ção de programas de educação e monitora- mento ambiental, que além de serem fonte de renda, são de grande auxílio na inibição de crimes ambientais. Nossa experiência mostra que o rela- cionamento com as comunidades traz be- nefícios para ambas as partes e cria laços permanentes, fundamentais para a susten- tabilidade do projeto e do planeta como um todo. ■ ▲ Jeanicolau Simone de Lacerda,assessor da Precious Woods Holding ▲ Marcos Souza, coordenador de sustentabilidade da Mil Madeiras Preciosas/ Precious Woods Amazônia 46 Revista Indústria Brasileira ▶ setembro 2020

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