Revista Indústria Brasileira

23 Revista Indústria Brasileira no primeiro estágio, que é copiar bem rápi- do. Depois, com base nesse trabalho, é preci- so começar a aprender e, daqui a pouco, co- meçar a gerar condições de criar a própria tecnologia. Isso funcionou no Japão e na Co- reia e funciona na China. O problema é esse: como não há condições estimulantes, não no sentido, digamos assim, psicológico da pala- vra, mas no seu sentido concreto, que dá estí- mulos realmente para o setor produtivo, este também se acomoda. E como fazer para o Brasil ter indústrias mais sustentáveis? Qual é a importância disso? Nós realmente precisamos enten- der que é para o nosso benefício, seja do ponto de vista do próprio bem-estar pro- porcionado por uma ação sustentada, mas também para o nosso bem de maneira prag- mática, para nos ajudar a ter, digamos as- sim, um atrativo adicional para a venda de produtos. A gente está fazendo o oposto dis- so. Agora precisamos correr atrás para re- verter esse quadro. Qual é o papel dos setores público e priva- do no desenvolvimento de uma economia sustentável? Há muitas coisas que depen- dem apenas das empresas, mas há uma ima- gem lá fora do que o país faz do ponto de vista ambiental, e isso depende do governo. Agora cada indústria tem um papel a fazer, pode fa- zer e pode fazer bem. Há um outro conceito prevalecendo agora, de que as empresas não têm mais só que prestar contas ou gerar be- nefícios apenas para os seus acionistas; têm que gerar benefícios para diversos públicos: os acionistas, os empregados, a comunidade na qual atuam e a cadeia de fornecedores e de redistribuição. Fundamental é lembrar da comunidade onde você atua e, nesse concei- to da comunidade, certamente o sistema de meio ambiente é fundamental. Eu acho que uma coisa que as empresas podem e devem fazer é realmente se transformar em susten- táveis e procurar reduzir a sua emissão de car- bono, se possível se tornando positivas em carbono, carbono neutro ou carbono positi- vo. Claro, vai ter algum custo, mas alguém tem que começar. Como o governo poderia atuar já? O papel do governo é, ao meu modo de ver, criar um bom ambiente, com condições propícias para os negócios. Isso passa por redução do Custo Brasil e redução da burocracia. Tem muita coisa aí que é de natureza microeco- nômica, que não precisa de mudanças cons- titucionais e mudança de postura dos órgãos fiscalizadores ou reguladores, deixando de olhar todo empresário, empreendedor e executivo como alguém que só tem um ob- jetivo: espoliar o governo, seus consumido- res ou seus clientes. O governo precisa, de fato, mostrar o quanto é o setor produtivo é relevante, porque é ele que gera empre- go, renda e riqueza. O governo apenas re- distribui e, no nosso caso, redistribui mal. E as empresas? No caso do setor privado, cla- ro que quanto mais positivo for esse ambien- te que o governo criar, melhor, mas ele não pode ficar esperando por isso. Tem que cui- dar, em primeiro lugar, de buscar inovação; em segundo lugar, de olhar os temas ambien- tais e o atendimento aos interesses das de- mais partes envolvidas; e se organizar. Isso deve ser feito de maneira que se possa le- var uma agenda mais adequada, mais mo- derna e efetiva, com a persistência e a pres- são necessárias para que as coisas possam acontecer. ■ ▲ Segundo Parente, o principal papel do governo deve ser criar um bom ambiente para os negócios e redistribuir riqueza, o que vem fazendo ainda muito mal

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