Revista Indústria Brasileira

Reter a atenção dos alunos é, talvez, a tarefa mais difícil em cursos online. Qual é a receita dos professores da IE Business School? Unimos três elemen- tos fundamentais: a aprendizagem ativa, a utilização de diferentes metodologias e a busca por uma comunicação fluida com o aluno para que ele acompanhe seu pro- gresso. Há muita metodologia, estudo e formação por trás de um bom curso on- line. A aprendizagem ativa é importante porque o aluno não pode só ficar ouvindo uma aula de uma hora e meia, sobretudo no ambiente online. A chave é fazer com que ele continuamente faça pequenas coi- sas. Em vez de apresentar algo, prefiro de- bater um caso concreto ou dividir a turma em grupos para que apresentem um tra- balho, envolvendo os alunos e estimulan- do essa participação ativa. Como funciona isso na prática? É essen- cial combinar diferentes ferramentas. É um erro pensar que há uma ferramenta “estre- la”. O que está muito na moda é a gamifica- ção . Os alunos jogam, todos adoram, mas te garanto que na quarta simulação eles não vão querer mais saber disso para o resto da vida. O negócio, então, é combinar essas di- ferentes ferramentas pedagógicas para que seja tudo mais dinâmico. Uma aula não pre- cisa ser uma videoconferência, que é o que quase todas as escolas e universidades têm feito hoje em dia. Podem ser feitos fóruns de discussão, simulações, jogos, dinâmicas, questionários, interpretações de papéis, ta- refas individuais e em grupo. Que dica o senhor daria para professo- ras e professores que estão estreando no ensino a distância? É preciso experimen- tar coisas novas. O importante é pensar que essa inovação não deve ser perfeita, e nós, como professores, não podemos ter medo de errar. O aluno gosta de inovações. Esta- mos competindo pela atenção do aluno o tempo todo. A diferença para as aulas pre- senciais é que, numa sala de aula, se o alu- no está desmotivado, ele continua desmo- tivado ouvindo sua aula. Agora, se está em casa, ele pode se conectar a um site, ver ví- deos, acessar as redes sociais... No Brasil, muitos não têm uma boa co- nexão de internet ou mesmo computador. Como driblar essas dificuldades? É impor- tante buscar diferentes exercícios e dinâ- micas que não demandem uma conexão constante, mas que possibilitem o trabalho remoto. O que está cada vez mais comum aqui na Europa é o trabalho por projetos, com entregas parciais. Uma coisa que fun- ciona muito bem é a customização, no sen- tido de adaptação, propondo projetos que tenham conexão com eles, como ensinar economia falando de futebol. Os brasileiros são muito conectados às redes sociais. É possível aproveitar isso de alguma maneira para aulas? Acredito que sim, mas com cautela. Mais do que as redes sociais em si, o que se deve levar em consi- deração e aproveitar é a dinâmica que elas oferecem. Posso usar uma ferramenta pró- pria que tenha semelhanças com as redes sociais, mas que não tenha as distrações de- las. O que me interessa são os princípios e não as ferramentas utilizadas. A maioria das escolas não tem a estru- tura da IE Business School. Como traba- lhar nessa situação? Há muito mito em re- lação aos investimentos em tecnologia. Na IE, o que realmente nos diferencia não é a tecnologia ou a estrutura, e sim o know-how que temos, o alto conhecimento de pedago- gia, de como funciona o online e de como engajar alunos. No Brasil, há escolas muito competentes e ótimos pesquisadores, en- tão não há nenhum impedimento para que ofereçam excelentes cursos online. O que deve ser feito é focar na pedagogia, pensar em como se conectar com o aluno, como melhorar a comunicação. A questão não é investir em um excelente computador ou em um aplicativo super avançado; isso é um equívoco. Se fosse assim, as entidades que mais gastam com infraestrutura e tec- nologia seriam as melhores, coisa que, te garanto, não é o que acontece. ■ 35 Revista Indústria Brasileira

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