Revista Indústria Brasileira

O executivo considera que o cenário continua sendo de muitas incertezas, que só aumentam com a decisão do governo de reduzir a injeção de recursos na eco- nomia por meio de ajudas temporárias. “Acho que precisaria haver um plano de desligamento de forma mais suave. Os im- postos foram diferidos, mas agora é pre- ciso pagá-los. Depois de suspender o con- trato de trabalho dos empregados, você agora vai receber os empregados e pode ser que a economia não esteja rodando ainda para aquela empresa. Ela tem que bancar folha e impostos com dificulda- des de crédito porque o sistema bancá- rio, mesmo com esse esquema de prote- ção de risco, ainda roda com dificuldade de acesso para as empresas”, diz Passos, ao explicar todas as incógnitas de uma equação que preocupa dirigentes de mui- tas empresas neste momento de retoma- da mais intensa das atividades após o que parece ter sido a pior fase da pandemia. Mesmo atuando no mercado há mais de 30 anos, a Gráfico Empreendimentos está negociando um crédito no mercado financeiro, mas enfrenta dificuldades com relação às garantias: “Ainda tem um ambiente de incerteza muito grande e os bancos travam as operações”, lamen- ta Passos. Segundo ele, as medida ado- tadas pelo governo foram dimensiona- das considerando um período de 70 a 90 dias e as restrições adotadas em função da pandemia já superam esse prazo. Com dados mais amplos sobre a reali- dade de todo o setor produtivo brasileiro, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, faz avaliação semelhante e afirma que, no atual momento, o que as empresas mais necessitam é crédito. “Mais de 90% delas são micro e pequenas e, por isso, não têm musculatura para aguentar crises como esta. O enfrentamento dos impactos de- vastadores da pandemia da Covid-19 exige medidas robustas para garantir a sobrevi- vência de milhares de empreendimentos e a manutenção de milhões de empregos. A principal dessas medidas é, sem dúvida, a facilitação do acesso ao crédito”, explica Robson Braga. Diante do aumento dos ris- cos, segundo ele, as instituições financei- ras se retraíram: “Por isso, é necessária a adoção de medidas extremas, para fazer com que o crédito, de fato, chegue às em- presas a um custo baixo”. RELAXAMENTO DE GARANTIAS Na avaliação de Wagner Barbosa, CTO da Clamper, a questão do crédito tem que ser resolvida porque as empresas fica- ram, por um período muito longo, fatu- rando abaixo das previsões. “Tem que ter um instrumento de relaxamento das ga- rantias. Isso tem que ser resolvido e quem resolve isso é o próprio governo”, afir- ma. “Essa questão da garantia é um ponto que, se você falar com dez empresários, todos os dez vão reclamar, porque eles não têm garantia para dar”, conta Barbo- sa. Ele também defende que algumas me- didas emergenciais devem ser prorroga- das ou tornadas permanentes. “Das medidas todas que o governo to- mou, as trabalhistas foram as que tiveram um efeito imediato bastante positivo. Nós utilizamos essas medidas, tivemos redu- ção de 25% da jornada de trabalho e real- mente conseguimos segurar o caixa para passar pelo período mais agudo da crise”, relata o CTO da Clamper, que tem 400 fun- cionários. Com sede em Lagoa Santa-MG, a empresa atua no mercado de soluções para proteção de equipamentos eletroele- trônicos contra danos causados por raios e surtos elétricos. Com relação às medidas de estímulo ao crédito adotadas pelo go- verno, ele diz que a empresa tentou acesso ao benefício, mas não conseguiu utilizá-lo. “Como somos uma empresa de ino- vação, estamos habilitados a usufruir de créditos com projetos na área de inova- ção, mas a gente sempre esbarra na ques- tão das garantias”, afirma Wagner Barbosa. Segundo ele, praticamente todas as empre- sas de médio porte vivem a mesma situa- ção a cada crise econômica. “Essa equação o governo ainda não conseguiu resolver. Há recursos no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), na 10 Revista Indústria Brasileira ▶ mês 2020 ▼ Capa

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