Revista Indústria Brasileira

economia que a pandemia impõe. De que forma isso ocorre? O governo federal erra ao adotar medidas na direção inversa, in- clusive no combate à Covid-19. É risível su- por que se desonera folha salarial cortan- do alíquotas das contribuições ao Sistema S, como se algum empregador, no meio de uma recessão que está para virar depres- são, fosse contratar novos empregados ou manter os atuais porque teve uma redução de irrisórios pontos percentuais nos encar- gos patronais. No atual contexto, qual a importância da estrutura, da capilaridade e do conhe- cimento setorial de instituições como o SENAI e o SESI? O caminho deveria ser jus- tamente o oposto ao sinalizado pelo Minis- tério da Economia. O Sistema S já tem es- trutura pronta e nacionalizada, podendo rapidamente ajustar seu funcionamento para passar a oferecer cursos profissiona- lizantes a distância e até usar as estrutu- ras físicas das entidades assistenciais para complementar ações públicas de saúde e assistência social. No lugar de aproveitar o que já existe, o governo parece ficar cego por ideologia, perdendo o mínimo de racio- nalidade técnica e bom senso. Mas a gravi- dade da crise é de tal ordem que espero que o governo possa vir a corrigir seus rumos, ouvindo e pactuando com as lideranças em- presariais e dos trabalhadores do país. ▲ Economista diz que não é hora de enfraquecer instituições que, há décadas, oferecem “um eficiente e amplo sistema de proteção trabalhista” Que riscos estamos correndo neste momento? Não se deve enfraquecer ins- tituições que poderiam atuar com o po- der público no combate à crise, seja pelo viés educativo, com oferta de cursos onli- ne e gratuitos abertos à população durante o período de quarentena, seja aproveitan- do a infraestrutura física de suas unidades para aumentar o número de leitos, distri- buir mantimentos à população e criar pos- tos de vacinação e de testes da doença. Na sua opinião, que papel essas en- tidades podem ter na recuperação eco- nômica pós-pandemia? O Brasil tem, há décadas, um eficiente e amplo sistema de proteção trabalhista, que vai desde o Fun- do de Amparo ao Trabalhador até o Siste- ma S. Infelizmente, o primeiro foi esva- ziado financeiramente e perdeu atenção e relevância política como instrumento que, mais do que pagar benefício, tam- bém poderia qualificar melhor os traba- lhadores. O setor privado conduziu muito do que deveria ser essa política de Estado por meio do Sistema S, com atuação em múltiplas áreas da economia. A emergên- cia da Covid-19 abre oportunidades ime- diatas para se aproveitar instrumentos, públicos e privados, para investir na me- lhoria da produtividade do trabalho no país. É urgente transformar benefícios assistenciais em trabalhistas.  ■ 27 Revista Indústria Brasileira

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