Indústria Brasileira

Estamos estabelecendo as bases para um crescimento sustentável JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS O ANO de 2019 foi positivo para a economia. Acredito que estejamos estabelecendo as bases para um crescimento sustentável. E que ba- ses seriam essas? No meu entendimento, o país pode voltar a crescer se conseguir três coisas ao mesmo tempo: a primeira é fazer um ajus- te fiscal que resulte numa redução mais sistemática da relação dívida/ PIB, que hoje está da ordem de 80%. Só assim, os agentes terão certe- za que a inflação não irá voltar. Em segundo lugar, é fundamental voltar a elevar o investimento pri- vado, uma vez que o governo não tem recursos. Esse investimento só poderá ocorrer no segmento de infraestrutura, já que existe uma gran- de capacidade ociosa na indústria, decorrente do processo de conces- sões. Com isso, a construção civil e o nível de emprego deverão crescer. Em terceiro lugar, é indispensável a recriação do mercado de cré- dito, com taxas baixas para todos. Isso já está em andamento. Essas três condições estarão disponíveis até o final do ano que vem, especialmente em decorrência da agenda de reformas. Nesse sentido, meu cenário é otimista. A retomada, entretanto, continuará gradual. Projetamos 0,9% de crescimento neste ano e 1,6% no ano que vem. Apenas em 2021 o crescimento deverá acelerar. As mudanças na Previdência Social foram bastante positivas, es- sencialmente porque enfrentou-se o pior problema do sistema atual, que é a aposentadoria precoce (emmédia, 53 anos para mulheres e 55 para homens), insustentável quando se sabe que as pessoas que che- gam aos 50 anos poderão viver até os 75 ou mais. A atuação do Congresso Nacional na área econômica talvez seja a maior surpresa positiva do ano, compensando fartamente a falta de coordenação e de presença do Executivo no debate de nova legislação. Acredito que a reforma tributária esteja na mesma situação da pre- videnciária há dois anos e meio: até as pedras sabem que são necessá- rias, mas estamos longe de um consenso que permita levar um texto para aprovação. Serão necessários mais estudos e discussões. Conside- ro, porém, indispensável avançar na discussão da reforma tributária. Como pontos negativos de 2019, vejo uma indefinição nos rumos da abertura econômica, muito pouco resultado na área de privatiza- ção, uma proposta claramente insuficiente na área tributária e sérias limitações na área regulatória. Apesar disso, minha expectativa para 2020 é de continuidade da melhora do desempenho econômico, podendo nos conduzir, embora lentamente, a um desenvolvimento mais sustentável no longo prazo. A piora na economia internacional e a agudização do conflito ideoló- gico são dois grandes riscos desse cenário. ■ ▲ sócio da MB Associados 46 Revista Indústria Brasileira ▶ dezembro 2019 ▶ A opinião de articulistas convidados não necessariamente reflete à da CNI. ▼ Outra visão

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