Revista da Confederação Nacional da Indústria | Ano 4 | nº 34 | Junho 2019

O saneamento não pode esperar PERCY SOARES NETO ▲ diretor executivo da ABCON (Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto). ▶ A opinião de articulistas convidados não necessariamente reflete à da CNI. ▼ Outra visão OS NÚMEROS do saneamento impressionam. Em 2019, metade da população brasileira não tem acesso a tratamento de esgoto e mais de 35 milhões de pessoas não têm acesso a água nas torneiras. A falta de saneamento deixa mais de 100 milhões em precárias con- dições de vida, homens e mulheres expostos a doenças que tiram mães do trabalho e crianças da escola e aumentam as filas do SUS (Sistema Único de Saúde). A falta de saneamento mata lenta e silen- ciosamente, agredindo commais impacto a população mais carente. Levar saneamento para a população gera empregos e um impor- tantíssimo impulso na economia por meio do aquecimento dos se- tores da construção civil, de máquinas e equipamentos, do aço, da química, de tubos e conexões, entre tantos outros. Todos esses se- tores sofrem com o cenário recente do país, quando escassos fo- ram os projetos de grande porte em infraestrutura. Estudo realizado neste ano pela KPMG aponta déficit de investi- mentos da ordem de R$ 497 bilhões para universalizar o saneamen- to nos próximos 14 anos no país – R$ 35,5 bilhões/ano –, três vezes o investimento realizado em 2017. Recursos públicos não consegui- rão atender nem a uma terça parte dessa demanda. Os últimos da- dos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) mostram que os investimentos estão em queda: entre 2016 e 2017, passaram de R$ 11,7 bilhões para R$ 10,9 bilhões. A operação dos serviços pela iniciativa privada – hoje presente em apenas 6% dos municípios, mas responsável por 20% de todo o investimento do país em saneamento – é alternativa que pode- rá ser estimulada para acelerar investimentos e cobrir o déficit do saneamento. É importante lembrar que as tarifas praticadas pelos operadores privados são, emmédia, apenas 3% mais elevadas que as tarifas de companhias estaduais. Modernizar o marco regulatório do setor é urgente. Mais com- petição, regulação estruturada e garantia de ganhos de escala são pilares dos textos em discussão no Congresso Nacional. Ancorado nesses pilares, o moderno setor de saneamento trará inovação e eficiência para a prestação dos serviços, associados a um fluxo es- truturado de investimentos. A concorrência no setor é saudável e permitirá que boas compa- nhias – públicas e privadas – mostrem que são eficientes e capazes de levar o melhor serviço para a população. O medo de mudar não nos fará avançar e levar os serviços a quem precisa. A equação do saneamento é de ganha-ganha: melhora o serviço, melhora a saú- de e aquece a economia. ■ 46 Revista Indústria Brasileira ▶ abril 2019

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