Revista da Confederação Nacional da Indústria | Ano 4 | nº 31 | Março 2019

▶ Qual é o futuro do emprego, diante de tan- tas inovações tecnológicas e da indústria 4.0? Na geração do meu pai, que começou a traba- lhar nos anos 1960, 1% das pessoas lutava por um trabalho na vida. Na minha geração, as pessoas lutam para trocar de emprego uma ou duas vezes na vida. Mas na atual geração, essa mobilidade é maior. E não é porque os trabalhadores jovens não gostam de seus em- pregos. Por diferentes motivos, os jovens vão trabalhar mais como freelancers do que fun- cionários de uma empresa. Esse será o empre- go possível no futuro. ▶ Quais serão as implicações disso para os tra- balhadores? Na minha geração, era muito im- portante saber a universidade pra onde você foi e para que empresa trabalhou. Eu não acho que isso será tão importante no futuro. O que será mais importante é o que você sabe e como sabe fazer, quais habilidades você tem. Acho que isso sim será verdadeiramente importan- te no futuro do emprego. ▶ Como o trabalhador deve se preparar para esse futuro não tão distante? Acho que é pre- ciso ver o que há de diferente em si mesmo. Faça coisas que todas as pessoas não fazem. Além disso, é muito importante investir em habilidades e desenvolvimento profissional próprio. É preciso constantemente aprender novas habilidades e isso não será apenas uma das possibilidades da empresa, mas também a possibilidade dos indivíduos. Isso é o que o trabalhador realmente deveria fazer, é fazer- -se diferente das outras pessoas. ▶ Pode dar um exemplo? Vamos dizer que no momento você trabalha em uma loja. Você pode apenas ser um trabalhador ou você pode também estudar em casa sobre o consumidor da sua loja. Pode usar os dados que a loja tem das suas vendas, descobrir o que não está ven- dendo bem e assim ser capaz de se preparar quando o cliente entra na loja, fazendo melho- res vendas. Aquelas habilidades analíticas não são algo que você aprende na escola quando se forma e depois não usa mais. São algo que você deve aprender e usar agora, porque há dados disponíveis. ▶ Qual o papel das empresas para requalifi- car seus funcionários? O trabalhador precisa se preparar para ser diferente e precisa inves- tir em si mesmo, mas as empresas também pre- cisam fazer o mesmo. Boas empresas têm pro- babilidade de atrair bons talentos. Apenas 58% das habilidades atuais nos empregos vão per- manecer as mesmas e 42% vão mudar. Mais da metade dos empregados em empresas vão pre- cisar desenvolver significativamente novas ha- bilidades até 2022. ▶ O Estado também deveria ter uma função nesse processo? Não estou dizendo que o Es- tado precisa determinar o que as empresas e os funcionários devem fazer, mas pode criar um ecossistema que apoie as empresas, o que apoia os funcionários nessa mudança. ▶ Quais habilidades e competências devem ser priorizadas nos próximos dez anos? Na minha empresa eu sempre disse que todo gerente de- veria se destacar por ter uma boa atitude. Acho que é necessário, nos próximos dez anos, en- contrar pessoas com atitudes de aprendizagem. Acredito que todos precisam ter mais habilida- des. Para mim, a programação de dados, por exemplo, é tão importante como a linguagem. Sabemos o quanto é importante atualmente falar idiomas, principalmente o inglês. Em 20 anos, não saber trabalhar com dados será pior do que não falar inglês hoje. ▶ Como assim? Acredito que ter uma habilida- de para trabalhar com dados, que não é neces- sariamente conhecimento de informática, mas sim a lógica de linguagem, é muito importan- te. A lógica e a estrutura da linguagem de da- dos vai permitir analisar grandes quantidades de dados para poder encontrar coisas que nos- so cérebro não está acostumado a identificar. ▶ O senhor disse, num evento em São Paulo, no ano passado, que é preciso aprender du- rante toda a vida. Pode explicar melhor essa opinião? Eu acredito que o mercado de traba- lho está mudando tão rapidamente que o que estamos aprendendo na escola simplesmente não vai chegar até onde precisamos. Portanto, acredito que o melhor é as escolas ensinarem como aprender a aprender. Devemos apren- der constantemente e não apenas na sala de aula. Estou com 50 anos, mas estou aprenden- do algo novo todos os dias, novas tecnologias, novas funções, novas habilidades. ■ 41 Revista Indústria Brasileira

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