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REVISTA
SESI/SENAI
EDUCAÇÃO
A RÃ E O ESCORPIÃO
O fogo crepitava feroz e avassalador. Na margem do largo rio, que
permeava a floresta, encontram-se a rã e o escorpião.
Lépida e faceira, a rã prepara-se para o salto nas águas salva-
doras. O escorpião ― que não sabe nadar ― aterroriza-se ante
a morte certa, ou estorricado pelas chamas ou impiedosamente
tragado pelas águas revoltas.
Arguto, e num esforço derradeiro, implora o escorpião:
― Bela rã, leva-me nas tuas costas na travessia do rio!
― Não confio em ti! Teu ferrão é inclemente e mortal ― responde
a rã.
― Jamais tamanha ingratidão. Ademais, se eu te picar, morte cer-
ta para nós dois.
― É verdade ― pensou candidamente o bondoso batráquio. Então
suba!
E lá se foram, irmanados e felizes. No entanto, no meio da traves-
sia, a rã é atingida no dorso por uma impiedosa ferroada. Entre-
meando dor e revolta, trava o derradeiro diálogo:
― Quanta maldade! ― Exclama a rã, contorcendo-se. Não vês que
morreremos os dois?!
― Sim ― responde o escorpião. Mas esta é a minha natureza!
*Foi professor, diretor de escola e autor do livro
Da Sabedoria Clássica
à Popular
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